Livro Terceiro... O Caminhante - Trecho


O Caminhante Caminhando o Caminho
© 2008 Janine Milward


Livro Terceiro


O Caminhante


A Realização da Espiritualidade

A fusão entre o Tao e o Tantra Primordiais


O Caminho da Bem-Aventurança

................................................................ (o começo do Capítulo aparece no original)

Karma e Samskara
Ação e sua Reação imediata ou em potencial

De uma maneira geral, estamos sempre ouvindo – ou mesmo falando – sobre tal evento ou situação ou pessoa que representam aquilo que (erroneamente) entendemos como nosso Karma..., na expectativa de que, com isso, estamos nos referindo ao peso, ao obstáculo, à situação desagradável ou penosa que temos que enfrentar em nossas vidas...

No entanto, não necessariamente Karma quer significar peso, obstáculo, situação desagradável ou penosa.... Não. A verdade é que Karma significa ação. Nossas ações de vida, todas, são denominadas de nossos Karmas.

E certamente, compreendemos que toda ação traz uma reação – seja ela uma reação mais imediata (ou podendo acontecer ainda dentro da mesma vida quando a ação, Karma, tenha sido praticada); ou seja ela em seu sentido de reação em potencial (podendo acontecer ainda na mesma vida bem como sendo a reação de ações praticadas em outras vidas anteriores).

Ação é Karma. O resultado de nossas ações se chama Samskara.

A Criação é a manifestação, o espelho da Mente Cósmica que por sua vez traduz a Suprema Consciência, o Tao da Criação.

Assim, toda a Criação é também mente. No entanto, aparentemente, somos nós, os seres humanos, os detentores da possibilidade de, primeiramente, expandir infinitamente e iluminadamente esta mente, transmutando-a em consciência e, em seguida, em Consciência iluminada e infinita, fusionada à Suprema Consciência, ao Tao da Criação.

Mente, Intelecto e Consciência

Quanto estamos sob as limitações, em nossa mente, somos parte do coletivo – Jiiva - ainda vivendo na escuridão da ignorância. Somos então dominados pelo medo e pelas questões terrestres apenas.

Quando ultrapassamos as limitações em nossa mente e alcançamos a liberação da mesma, alcançamos o Uno, Shiva, e com ele nos fusionamos.

Dessa forma, é importante que saibamos que, sendo seres que usam sua mente, aprendemos que antes de mais nada, também é a mente a causa das limitações bem como a causa da Liberação.

Existem então formas que poderemos nos impor para ultrapassar a ignorância de nossa mente – essa é a meta de realização de nossa vida.

É a mente que realiza a ação. E portanto é a mente que desfruta das vicissitudes e das virtudes dessas ações.
Quaisquer ações que pratiquemos, são gravadas suas impressões em nossa mente. São reações em potencial. Karmas e Samskaras.

Quando a mente se deforma – a partir da prática de ações negativas e da colheita das reações semelhantes -, ela tem intrinsecamente a tendência a retornar à sua forma original, ou seja, mente pura, cristalina, infinita e iluminada.

Dessa forma, podemos entender também que Samskara é a tendência da mente a retornar à sua forma original, ou seja, à Fonte Primordial, o Tao da Criação.

Sementes que nascem de novo e Sementes Queimadas

O Retorno à Fonte Original realizado pela mente expansionada buscando sua iluminação e infinitude, acontece quando o homem decide caminhar seu Caminho da Iluminação.

Lao Tsé, o Mestre do Tao, nos diz:

... Uma longa jornada inicia-se debaixo dos pés... (2)

O Caminho da Iluminação alcança sua plenitude quando o homem torna-se Homem Sagrado, com mente iluminada e infinita. No entanto, esse homem tornado sagrado, ainda é considerado Semente que nasce de novo, ainda pertence à Roda da Vida, a Samsara, na medida que, ao morrer parte para verdadeiros Nirvanas, sim, porém ainda precisa retornar à encarnação, à materialização, para poder bem realizar seu Caminho da Liberação, ou seja, vida iluminada e infinita e então, finalmente, tornar-se a Semente Queimada, já tendo conquistado plenamente a finalização de sua Samsara, a Roda das Encarnações, assim como a conhecemos.

O homem sempre se encontra diante de duas possibilidades em relação ao fato dele, o homem, como tudo no universo, ser uma semente. Num primeiro momento, poderíamos pensar que é bom "ficar para semente". Certamente também esse ponto de vista é correto quando quer significar deixar bom trabalho e bons exemplos como herança na Terra...

Mas, por outro lado, a sabedoria do Tantra (Tantra significa libertação da escuridão da ignorância) e revelada por seu mestre, Srii Srii Anandamurti, nos diz que existem homens e Homens Sagrados, ou seja, existem as sementes que voltam a produzir (re-encarnarem novamente na Terra ou em outros planetas do mesmo nível) ou existem as sementes "queimadas", aquelas que não mais voltam a encarnar.

Assim o homem é aquele que é a semente que nasce de novo e o Homem Sagrado é aquele que representa a "semente queimada", Dagdhabiija.

A "semente queimada" existe a partir da queima total de todos os Samskaras, provido o fato de que também não existem mais criações de Karmas - sempre a ação é correta não produzindo, dessa maneira, sua reação em potencial.

Consciência e Discernimento

Sabedores que, para não mais fazermos parte da Samsara, a Roda das Encarnações assim como a conhecemos, temos que realizar a total queima de todas as reações, negativas ou positivas – os Samskaras – para nos tornamos Sementes Queimadas e plenamente realizarmos nosso Caminho da Iluminação e Caminho da Liberação..., nos vem à mente a questão fundamental:

- Como então podemos ir além dos Karmas e Samskaras?

Esse é o papel da consciência. O que é consciência? Consciência é discernimento – Viveka.

Essa consciência discriminativa, esse discernimento, sempre está entre a escolha de realizar uma ação boa ou uma ação ruim – existe então um julgamento.

Quando se age corretamente, Vidya, temos a consciência regendo a mente e podemos retornar à Consciência Suprema. A ação incorreta leva à degradação, Avidya.

O bom discernimento, Viveka, precisa muito bem definir a diferença entre aquilo que é eterno, Sat, e aquilo que é transitório, Asat. Também é importante discernir entre a dualidade e a unidade. O mundo da coletividade, Jiiva, acolhe o transitório e a dualidade. Somente a Suprema Consciência é a própria eternidade, é a própria unidade, Shiva.

Ação, conhecimento e Devoção
Karma, Jinana e Bhakti

Compreendemos também que o homem é aquele que funciona sua mente através do intelecto – que é extremamente limitado... Quando a mente consegue ultrapassar a limitação do intelecto, ela atinge a plenitude do Conhecimento.

O Conhecimento, Jinana, é muito importante porque é o instrumento que nos ajuda a identificar nossa meta e como alcançá-la.

Conhecendo nossa meta, é preciso a Ação, Karma, para se chegar até a ela. A Ação, sem reação, sem Samskara, é Karma. Apenas agir o Karma, a Ação, mecanicamente, não nos leva ao aprofundamento em nossa essência espiritual – é preciso então, Bhakti, a Devoção.

Uma vez tenhamos obtido a plenitude do Conhecimento, podemos jogá-lo fora, prescindir dele, porque o mais importante em nosso Caminho para a Liberação é a Ação plena de Devoção. Assim, o Conhecimento apenas não é suficiente para se alcançar a Suprema Consciência, o Tao da Criação.

O Conhecimento tem que ser aliado à Ação, Karma, e fundamentalmente, à Devoção, Bhakti. Dessa forma, a Devoção, Bhakti, é a meta final a ser atingida para que o aspirante espiritual possa vivenciar e ultrapassar seus Samskaras adquiridos.

Em suma, a essência de tudo é conseguirmos usar nossa mente, nossa consciência discriminativa, nosso discernimento, nosso julgamento – Viveka – para irmos além do intelecto, que é extremamente limitado. Assim fazendo, conseguimos realizar os três princípios fundamentais – Conhecimento, Ação e Devoção – de maneira plena para alcançarmos nossa meta, a Consciência Suprema . Esse é o Caminho da Liberação.

Assim, a conclusão é: enquanto existirem Samskaras, não existe Liberação. Qualquer ação, seja boa ou seja ruim, cria Samskaras. Se praticamos uma boa ação, trazemos boas reações, bons Samskaras para nossa vida: se praticamos uma má ação, trazemos Samskaras ruins para nossa vida....

Concluindo o Ciclo da Karmas e Samskaras...

Se enquanto existirem Samskaras (as reações imediatas ou em potencial em relação às ações praticadas), o homem não pode tornar-se Homem-Sagrado em sua plenitude..., como podemos ir além desse ciclo de Samskaras? Qual é a saída?

Primeiramente, temos que compreender que devemos realizar nossas ações pela sua realização intrínseca e não pelos seus resultados.

Assim, não procurar pelos resultados de nossas ações é a primeira saída para irmos além do ciclo de Samskaras, sejam bons ou ruins.

A ação correta certamente trará o resultado correto – mas isso não deverá fazer parte de nossa preocupação, de nossa intenção. Quando existe a preocupação ou intenção, o esforço não é completo.

A ação deve sempre ser realizada sem expectativas de seus resultados. É o Wei Wu Wei, a Ação através da Não-Ação.

O Caminho é uma constante não-ação
que nada deixa por realizar (9)

A boa caminhada não deixa rastros ou pegadas (10)

O Grande Caminho é vasto
.....
Conclui a obra sem mostrar sua existência
........
Assim, o Homem Sagrado nunca age como grande
Por isso pode atingir sua grandeza (11)

Em segundo lugar, devemos abandonar o ego, o autor das ações realizadas.

Apenas realizar a ação correta sem manter expectativas quanto ao resultado, não é ainda o suficiente: é preciso também abandonar o eu, o ego, a expectativa do reconhecimento do trabalho realizado.
Concluir o nome, terminar a obra, retirar o corpo
Este é o Caminho do Céu (12)

As pessoas tem um ego
Somente eu o ignoro considerando-o precário
O que quero que me distinga dos demais
É valorizar o alimentar-se da Mãe (7)

Se compreendermos que nossa mente é, na verdade, uma manifestação, um espelhamento, da Mente Cósmica advinda da Suprema Consciência, e nos conscientizando que sua maneira natural de ser a coloca no caminho de trazê-la da deformidade à perfeição absoluta..., certamente entenderemos o que nos diz Srii Srii Anandamurti, o Mestre do Tantra, em relação ao Princípio Primordial da Criação, a força vital:

Você nunca está sozinho ou abandonado...
A força que guia as estrelas, guia você também.

Finalmente, devemos oferecer tudo em nossa vida ao Tao da Criação, à Suprema Consciência. Esse oferecimento acontece através da realização de nosso Dharma, ou seja, da realização plena de nossa essência primordial.

Dharma

O homem se orienta pela terra
A terra se orienta pelo céu
O céu se orienta pelo Caminho (o Tao)
E o Tao se orienta por sua própria natureza (1)

Lao Tsé, o Mestre do Tao, assim nos orienta a respeito do Dharma primordial, ou seja, o Tao se orienta por sua própria natureza..... Podemos, então, entender o Dharma como sendo a característica essencial de nosso ser, nossa natureza essencial, nossa própria maneira de ser.

Também Dharma nos remete à alegria de fazermos parte de uma coletividade dentro da Criação – Jiiva - e, com a plena consciência em relação à nossa natureza essencial, prestarmos nossos serviços a todos os seres – no entanto, sempre voltados para nossa Unidade essencial, Shiva.

Dessa forma, quando falamos sobre o Dharma, nos lembramos da consciência coletiva e da consciência unitária:

- A consciência coletiva, Jiiva, é a própria Criação, em sua multiplicidade infinita e sempre em eterna mutação, em seus ciclos infinitos de vida, morte, vida, morte..., bem como a interiorização e fundamentalmente, a exteriorização.

- A consciência unitária, Shiva, é advinda da Mente Cósmica que faz brotar a Criação, nela manifestando a unicidade absoluta da Suprema Consciência, o Tao da Criação, que representa a plenitude da não-mutação... e certamente, apenas interiorização.

A consciência coletiva nos leva à realização de nosso Trabalho de Encarnação. A consciência unitária nos leva ao nosso Caminho da Iluminação e posteriormente, ao Caminho da Liberação ou Imortalidade: o Retorno à Fonte Primordial.

Assim, Dharma revela nossa alegria imensa de retornarmos à nossa Fonte Primordial, de nos fusionarmos à Suprema Consciência, de nos tornarmos unos com a Consciência Una.

Através dos tempo e do espaço, do Vazio e da Luz, vamos vivenciando cada vez mais a ampliação de nossa mente até que se torne mente iluminada e infinita. E é através da forma com a qual vamos vivenciando este processo dentro da Samsara, a Roda da Vida, as encarnações junto à mutação da Criação, vamos elaborando nossa natureza essencial, nosso Dharma.

Então, assim como acontece com Karmas e Samskaras – ações e reações em potencial – o Dharma é também algo que vamos construindo ao longo de nossas vidas: o ser essencial, a natureza própria que existe em cada um de nós, é como uma longa estrada caminhada passo a passo – com consciência a cada passo. É o Livre-Arbítrio.

Livre-Arbítrio

O verdadeiro Livre-Arbítrio é aquele que chega até nós quando finalmente estamos vivenciando nosso Dharma em toda sua plenitude, ou seja, quando já nos encontramos em nosso Caminho da Iluminação, com vistas a também posteriormente trilharmos nosso Caminho da Imortalidade ou Liberação – mente e vida infinitas e iluminadas.

Certamente que também o Livre-Arbítrio nos acompanha desde sempre, a cada passo nesta longa estrada que viemos caminhando, desde o começo desse universo do qual fazemos parte atuante e constante e sempre em mutação.

Porém, como já vimos anteriormente, temos que aprender a trabalhar nossa mente de maneira tal que eliminemos todos os Karmas e Samskaras negativos. Talvez esse seja o maior aprendizado em relação ao bom uso do nosso Livre-Arbítrio.

O melhor Livre-Arbítrio é aquele que nos orienta no sentido da eternidade e nos elucida em relação a tudo aquilo que é apenas efêmero, transitório. A própria escolha entre o vivenciar um tema ou outro faz parte de nossa maneira essencial de ser, nosso Dharma.

homem, Homem-Sagrado e o Bodhisattva

Ao final do Caminho da Iluminação, já como Homens-Sagrados-a-virem-a-ser, temos em frente a nós um momento absolutamente decisivo em relação à maneira como vivenciamos nosso Dharma e como agimos nosso Livre-Arbítrio.... A pergunta se faz: vamos continuar, seguir em frente, ou vamos parar? Ou seja, vamos nos colocar em nosso Caminho da Liberação ou Imortalidade e realmente nos tornarmos Homens-Sagrados com a transmutação plena de nosso corpo físico em Corpo de Luz – com mente e vida infinitas e iluminadas?

E, em seguindo nosso Caminho da Liberação, conseguimos finalmente – após tantas e tantas encarnações – nos tornarmos uma estrela, um Homem-Sagrado.... qual deverá ser nosso caminho?

..... Devemos nos tornar a Semente Queimada que sai da Roda das Encarnações assim como a conhecemos e nos lançarmos como mentores ou guardiões da vida em desenvolvimento da Mente Cósmica dentro desse nosso Sistema Solar.... ou em outro lugar da Galáxia... ou em outra galáxia, quem sabe em outro universo, ou ainda além, quem sabe dar berço a um novo universo?

..... Ou devemos nos tornar um Bodhisattva, um ser de compaixão, que ainda prefere continuar atado à Roda da Vida, encarnando no Planeta Terra – correndo o risco de praticar Karmas negativos e colher Samskaras negativos (embora sua mente infinita e iluminada – e sua vida infinita e iluminada - o orientem quanto a isto) – para ajudar a levar a luz da consciência a todos os seres que aqui vivem... até o último deles conseguir sua Iluminação (e Liberação)?
.......

Como vemos, Karma e Samskara, Ação e Reação em potencial, e Dharma e Livre-Arbítrio caminham juntos, todo o tempo, tecendo uns aos outros: o Dharma nos fazendo vivenciar nossos atos a partir do nosso Livre-Arbítrio, sempre estruturados no ser essencial que existe dentro de nós e que vai sendo elaborado - em ações e reações em potencial, Karmas e Samskaras - construindo a ampliação de nossa mente em consciência coletiva, inicialmente, e posteriormente, em consciência unitária – à semelhança da Consciência Cósmica, a Suprema Consciência.

Ação dentro da Não-Ação

A Não-Ação não significa nada fazer, ao contrário, significa a Ação correta no momento em que ela é necessária de se fazer acontecer. Para tanto, o livre-arbítrio e a plenitude da consciência nos ajudam imensamente em praticarmos a verdadeira Não-Ação.

O Caminho é uma constante não-ação
Que nada deixa por realizar (9)

Desejo dentro do Não-Desejo

O Desejo único que resta ao homem que está em seu Caminho de Iluminação e de Liberação para tornar-se o Homem Sagrado é o de seu Retorno à Fonte Primordial, ao Tao, à Consciência Suprema. Assim, o Desejo torna-se Não-Desejo, na medida que não mais se almeja o retorno à encarnação e à Roda da Vida, a Samsara – apenas como Semente Queimada ou Bodhisatwa.

A simplicidade do sem-nome também se inicia no não-desejo
O não-desejo traz quietude
O céu e a terra, por si, estarão em retidão (9)

Humildade e Desapego

Para alcançarmos o Tao, O Caminho, resta-nos o exercício do Te, A Virtude.

A maior das Virtudes certamente é a Humildade.

A maior das qualidades é certamente o Desapego. Desapego no sentido da compreensão plena entre a transitoriedade, a duração, a finitude, a eterna mutação da Criação.... e a constância, a infinitude, a não-mutação do Criador.

Dessa forma, aquele que alcançou a iluminação e infinitude de sua mente e de sua vida pratica a humildade e o desapego, naturalmente, sempre fluindo na correnteza do Tao da Criação.

...., o Homem Sagrado age sem querer para si
conclui a obra mas não se apega
e não deseja mostrar sua eminência (13)

............................. (a continuidade do Capítulo aparece no original)


O Caminhante Caminhando o Caminho
© 2008 Janine Milward
Livro Terceiro
O Caminhante